Parte II
A 10.000
quilômetros na África, a nossa família está no coração dos florestas tropicais do
sudeste asiático. São os descendentes de Eva caçando nas florestas da Malásia
perambulando em pequenos bandos, ficando num lugar tempo bastante para fazer a
colheita da vida selvagem e depois continuando.
Seus
corpos estão começando a se adaptar às condições da floresta tropical. Longe do
impiedoso sol africano, suas peles se tornam mais claras, sua estatura reduzida pela falta de carne. Como caçadores-coletores
das florestas atuais, eles vivem de peixes, ratos, esquilos e lagartos, da caça
que vive nas árvores, frutas e raízes. Eles se disfarçam e se camuflam para se
adaptarem à folhagem e imitam o chamado dos animais para enganar a suas presas.
A vida
na floresta é compartilhada com cobras venenosas, najas, pítons e animais
predadores.
Existem
poucas evidências arqueológicas claras da presença dos humanos modernos entre a
saída da África e a chegada na Austrália ou de sua incrível migração. Não há
crânios, esqueletos ou sepulturas.
O nível
dos mares era mais baixo, então o que nossa família deixou para trás em suas
viagens pela costa foi levado pelo mar.
A trilha
genética é tudo que temos.
Só
depois de chegarmos à Malásia é que novas evidências começam a preencher as
lacunas.
A
erupção do Grande Toba, na Sumatra, há 74.000 anos, foi a maior explosão
ocorrida nos últimos 2 milhões de anos. A coluna de fumaça tinha 40 km de altura
e mergulhou a maior parte do mundo em seis anos de inverno vulcânico.
O norte
da Malásia, Índia e o Oriente Médio foram cobertos por um sudário mortífero de
uma densa cinza vulcânica.
A
explosão do Grande Toba, a mais mortífera dos últimos 2 milhões de anos,
fornecem indícios positivos da jornada e da nossa família. Este é o grupo Seman,
um tímido grupo coletor das florestas do da península do lago. Mais escuros do
que os outros grupos étnicos malaios, eles fazem parte do grupo Oran-Asley. Stephen
Oppenheimer acha que eles podem ser os
remanescentes da nossa família africana que passou por aqui há 74.000 anos.
E se
nossos ancestrais passaram por aqui, na rota da África para a Austrália e Nova
Guiné, é provável que tenham deixado um traço genético, e nós sabemos por
pesquisas anteriores, que os Oran-Asley, entre outros grupos e tribos da Ásia e
Malásia, estão entre os povos mais antigos que esta região. E os Semandes são
provavelmente os mais antigos de todos.
Stephen Oppenheimer
veio a este remoto no vilarejo coletar amostras de DNA. Ele espera que isso que confirme a sua ideia.
Se a
minha teoria estiver correta, de que eles saíram da África há 80.000 anos
atrás, eles teriam que ter viajado 10.000 quilômetros para chegar aqui em 6000
anos, para poderem estar aqui da época da grande explosão do Toba. Isso
significa um quilômetro e meio por ano, o que é totalmente viável para esse
tipo de vida nômade de movimento pela costa. Para determinar se ele pertenciam ou
não a aquele primeiro grupo que saiu da África, precisamos observar as suas
linhagens genéticas e, em particular, o DNA mitocondrial, que provavelmente vai
nos dizer se eles vêm ou não diretamente das duas filhas de Eva originadas logo
depois da saída da África.
Se eles
tiverem a suas próprias linhagens exclusivas, isso sugere que estiveram
isolados desde aquela época, 70-80.000 anos atrás, e que se desenvolveram
totalmente sozinhos. se descobrirmos, porém, que suas linhagem são anteriores
ao dos povos como os australinos ou os papuanos, mais uma vez o nosso
rastreamento genético vai nos ajudar a ver se é este o caso ou não.
A
pesquisa genética pode provar que os Semangs são uma raça antiga, mas não pode
provar desde quando estão aqui. Precisamos examinar outras provas para validar
a teoria. Essas ferramentas rudimentares foram encontradas num vale chamado
Kota Tampam perto de Penang. Existem outros sítios próximos com os mesmos tipos
de ferramentas, o que torna estas particularmente interessantes é que elas
estavam incrustadas num monte de cinzas de Toba datada de 74.000 anos.
A
professora Zuraina Najid o estava procurando por rebites antigos quando do
encontrou o sítio de Kota Tampam. O que a professora encontrou realmente foi
uma oficina de ferramentas de pedra que pôde ser datada de 74.000 anos atrás.
A cinza
cobriu o chão de trabalho. Essa cinza foi datada de 74.000 anos. Este é um
martelo de pedra que eles usavam. Você pode ver, ele é bem confortável de
segurar com uma mão, e essa é a borda que era usada. Este é um cortador, um
tipo que é muito visto na Ásia e no sudoeste da Ásia. O que eles procuravam era
o ângulo do fio. O ângulo do fio tinha que ser correto, tinha que ser afiado e
ser usado para o serviço pesado. Tem uma borda afiada. Provavelmente era para
derrubar as árvores.
Najid
está convencida de que foram deixados pelo homem moderno.
Kota
Tampam também revelou um homem que tinha uma mente complexa. Sua tecnologia revela uma mente
racional, sistemática e organizada. É a mente do Homo sapiens.
As
ferramentas de Kota Tampam São fundamentais para estabelecer a idade do homem
no sudeste asiático. São as primeiras evidências tangíveis que temos de toda a
jornada da África até a Austrália. Combinadas com os testes genéticos de Stephen
Oppenheimer elas podem ser as provas reais de nossa antiga migração.
Ele terá
encontrado a prova de que precisava?
Pela
primeira vez a arqueologia e a genética nos dão a mesma resposta desse ponto
crucial de nossa viagem. Agora podemos ter certeza de que nossos ancestrais
vieram por aqui há 74.000 anos.
Os
resultados são muito animadores. Os Oran e o grupo Semang aqui tem suas
próprias linhagens genéticas e exclusivas e poderiam estar naquela primeira
viagem através das praias há 75.000 anos. Eles têm as suas próprias linhagens
originadas das duas primeiras filhas de Eva fora da África e seguem o caminho
até lá sem compartilhar com ninguém do sudeste asiático ou da Ásia.
Naquela
época o nível dos mares era 50 m mais baixo. A maioria das ilhas do sudeste
asiático era ligada numa única porção de terra do continente de Sundra.
Os
sobreviventes do inverno vulcânico de Toba levam a nossa viagem a genética ao
próximo grande passo, o continente desconhecido da Austrália.
160 km
de mar infestado de tubarões no separam da Terra Nova (Austrália).
(O vídeo
mostra: A travessia deve se ter dado em pequenas bolsas. Essas balsas,
provavelmente, comportavam de quatro a seis pessoas e eram movidas a remo, feitas
de bambu amarrado com cipós)
Este é o
segundo grande êxodo da humanidade para a conquista do mundo, mas desta vez não
havia os montes verdes do Iêmen para lhes dar o conforto de uma chegada segura.
(O vídeo
mostra águas infestadas de tubarões, muitos de nossos ancestrais podem ter
morrido e os que fizeram a travessia em jangadas de bambu devem ter lutado
contra as feras do mar com suas lanças, muitos deles devem ter caído de suas
embarcações e terem sido devorados por tubarões)
Por que
eles arriscaram tudo numa aventura tão perigosa, mesmo sem saber se iriam
encontrar terra firme no final?
Alguns
cientistas acreditam que eles saíram fora de curso e chegaram à costa
desconhecido por acidente.
Mas
novas pistas das evidências genéticas dizem que não. Elas mostram que os
aborígines australianos têm diversas linhagens exclusivas a eles, que levam
diretamente às primeiras filhas de nossa Eva que haviam saído da África.
Tantas
linhagens carregadas por tantas mulheres, chegando num tempo tão curto, sugerem
uma inversão deliberada e não deve se tratar de uma incursão acidental.
O
primeiro grupo chegou há 70.000 anos atrás e outros se seguiram nos 5.000 anos
seguintes, todos descendentes de nossa Eva saída da África.
Estas
foram as primeiras pessoas a andarem neste continente vazio. Eles não queriam
perturbações por milhares de anos.
A
Austrália, onde eles entraram, era o lar de criaturas gigantes o que chamamos
de megafauna, de cangurus de 3 m de altura e tartarugas do tamanho de um
automóvel. Um deles era um pássaro gigante que não voava. As pinturas nas
cavernas desse mundo desaparecido foram datadas de 61.000 anos, mas de repente,
10.000 anos depois, essa criatura fantástica e todas as outras da megafauna
foram extintas.
O clima não
se alterou, não há grandes sítios de matança que indiquem caça excessiva, mas
os humanos mudam o mundo aonde quer que estejam. Essa extinção repentina é prova
da presença deles: parece que os nossos ancestrais tenham destruído o habitat
esses grandes animais, que simplesmente morreram.
Mas nem
todos aceitam a teoria de uma só saída através da África. Este leito de lago
seco é um dos lugares onde a teoria pode se desintegrar.
Apesar
da combinação da arqueologia e da trilha de genes através da Malásia, o crânio
encontrado em Mungo Man III é a peça-chave no quebra-cabeças. Quando ele foi
encontrado, a terra em torno dele foi datada de 62.000 anos. Quando os ossos foram
testados, o DNA não combinava com ninguém em lugar nenhum do mundo.
Mungo Man
Para
aqueles que não acreditam na teoria da saída da África, esta parece ser a prova
de que os humanos modernos evoluíram em lugares diferentes do mundo, até as
pessoas que nós somos hoje. Mas outros cientistas como o professor Christopher
Stringer têm dúvidas.
Existem
muitos problemas em se extrair o DNA de um esqueleto de 60.000 anos de idade. Então
o DNA recolhido pode ser que esteja contaminado, e nós não temos certeza disso.
Mas mesmo que seja genuíno, outras análises mostram que de fato ele pode ser
muito bem derivado de um ancestral saído da África. Então, a prova Mungo tanto
dos ossos como o DNA, se for verdadeira, ainda apoia a recente origem africana
de nossas espécies.
Os
aborígines da Austrália são um povo antigo, mas eles não se parecem mais com os
seus ancestrais que chegaram há tantos milhares de anos. Os seus corpos se
adaptaram, passando todas aquelas características necessárias para sobreviver
como caçadores e coletores num meio ambiente do severo do deserto. Por baixo da
pele todos nós somos parecidos, nos mostra que nós viemos de uma variedade de
genes muito pequena.
Se você
olhar o DNA de todos nós, australianos, africanos, europeus... Descobrimos que
se compararmos o DNA mitocondrial de todos nós, mostramos menos variação,
embora haja seres humanos espalhados por todo o mundo, mostramos menos variação
no DNA mitocondrial, no que encontramos num pequeno grupo de chimpanzés ou
orangotangos, ou gorilas. e esses macacos mostram mais variação em seus
pequenos grupos do que toda a raça humana.
Mas se
todas as pessoas do mundo inteiro descendem de uma variedade de gêneros tão
pequeno pequena, por que temos uma aparência tão diferente?
A
seleção natural e a adaptação ao meio ambiente são os fatores mais importantes.
A seleção sexual é fundamental. O clima dita o formato do corpo. Quanto mais
frio o ambiente, menor e mais o troncudo você se torna para manter o calor. A
altura tem relação com a dieta. Os asiáticos diminuíram quando o arroz tomou o
lugar da carne como a principal dieta e eles estão crescendo de novo com a
carne retornando para a sua dieta. Ninguém sabe porque os asiáticos têm as suas
pálpebras características. Poderiam ter sido desenvolvidas como proteção contra
o frio? Ou essa seria a norma? a maioria dos fetos as possuem mas desaparece no
nascimento. A mais óbvia e impressionante diferença é a cor da pele. E isso
também é faz parte de nossa herança genética.
Mira
Jablonski, uma das principais cientistas que pesquisam a evolução da cor da
pele estava trabalhando na importância do ácido fólico no desenvolvimento
fetal, quando encontrou, por acaso, a resposta.
Eu
comecei a pesquisar a evolução da cor da pele depois de preparar uma palestra
para uma aula há mais de dez anos. Foi interessante me preparar para a aula, e
me dei conta de que se sabia muito pouco sobre a evolução da cor da pele, e o
que se sabia não era muito convincente. Eu descobri um trabalho interessante
quando estava preparando o aquela palestra, que mostrava que havia uma
interessante e importante relação entre a radiação ultravioleta que uma viu
molécula chamada folan.
O ácido
fólico é fundamental para o desenvolvimento embrionário, e muita radiação
ultravioleta pode destruí-lo. Então, nossos ancestrais na África tropical
precisavam ser escuros para sobreviver. Mas a falta de ultravioleta impede a
formação de vitamina D, causando raquitismo, que pode matar.
Assim,
quando eles ligaram para o norte sem sol, eles tiveram que ficar mais pálidos
para poderem sobreviver. Ela descobriu uma equação evolucionária muito simples.
Quando
nós observamos o padrão da pigmentação entre os povos indígenas de hoje, vemos
gente muito escura nas regiões equatoriais e pessoas mais claras ao nos
aproximarmos dos pólos. E acontece que a melanina, protetor solar natural, é
muito bom para bloquear a radiação ultravioleta. De certa forma é bom demais.
E, para que nós possamos fazer produzir vitamina D suficiente em nossas peles,
precisamos reduzir a quantidade de melanina que existe na pele. E assim o que
vemos no curso da história de nossa espécie quando nós nos movemos de uma área de
alta radiação ultravioleta para uma de baixa radiação ultravioleta, nossa pele
se torna cada vez mais pigmentada.
Ela
calcula que leva mais ou menos 20.000 anos para transformar o preto em branco.
Tudo o que distingue a cor das pessoas são pequenas diferenças genéticas acontecidas há muito tempo.
Em
50.000 anos a raça humana se espalhou pela maior parte dos mundo oriental, da
África até a Índia. Descendo para a Ásia e através do mar para a Austrália. Na
maior parte desse tempo o homem esteve preso numa era glacial feroz. Lençois de
gelo cobriam a maior parte do mundo norte, cercando os mares e aumentando os
desertos. Mas o clima estava começando a mudar, e novas jornadas podiam
começar.
Durante
a migração pela costa da África até a Austrália, nossa família deixou para trás
colônias que fizeram novas jornadas por si mesmas. Um grupo pegou o caminho
através da Ásia, até a China e além dela. Outro foi do Norte da Índia, passou o
Himalaia, até as vastas estepes asiáticas e outro ficou aqui no Golfo Pérsico.
Grandes lagos de água doce permitiram que os nossos familiares, vindos da
África, colonizassem esses bolsões de vegetação luxuriante e cercados pelo
deserto.
Uma ocupação
contínua ocorreu por aqui por mais de 30.000 anos. Seus ossos e artefatos
submergiram com a alta do nível dos mares.
50.000 anos antes de nós
Há mais
ou menos 50.000 anos, as linhagens genéticas começaram a se espalhar pela
primeira vez para o norte até a Europa.
Mas a
época foi sempre um quebra-cabeças.
Se os
humanos modernos foram capazes de alcançar a Austrália há 70.000 anos, por que
só foram chegar para a Europa há 50 mil anos? E é uma viagem bem mais curta e Stephen
Oppenheimer acha que tem a resposta.
Acho que
a resposta para essa pergunta é que eles ficaram presos, não foram capazes de
ir até o oriente próximo para Isral e o Líbano, porque havia um grande deserto
no meio. Esse deserto era o da Arábia Saudita e o da Síria, e entre 80.0000 e 50.000
anos atrás, eles eram completamente impenetráveis. O clima era tão seco, que o
Crescente Fértil, a rota do golfo até o Líbano, Israel e a Europa, estavam
fechados. Então, 50.000 anos atrás, houve uma melhora repentina no clima.
Houve
muita e muita chuva.
Depois
de séculos de dominação pelo deserto, as chuvas vieram e as monções aumentaram
na Arábia e na Índia, e o Crescente Fértil se abriu. Os rios e a caça
serpenteavam para o norte e nossas famílias de linhagens genéticas os seguiram.
Eles
andaram para o norte do Golfo Pérsico dentro do Crescente Fértil, seguindo os
filhos entre as montanhas e as árvores do deserto da Síria.
A ideia
de que os europeus vieram do Norte da África é muito aceita, mas as provas de Stephen
Oppenheimer não apoiam isso.
As evidências
genéticas não apoiam isso de jeito nenhum. Não há evidências de ramificações
anteriores. Na verdade, apenas uma das ramificações principais das pessoas que
existem no mundo é encontrada na região europeia. é claro que isso frustra
muitas opiniões sobre as origens dos europeus, e nos obriga a considerar o fato
de que os europeus eram parte de uma única família que saiu da África através
da rota do Sul. Essa nova evidência genética vai reescrever a pré-história
europeia.
Essas
famílias fundaram as primeiras colônias
de humanos modernos e no Oriente Médio, na Síria e no Eman. É uma terra que se
estende entre os rios Tigre e Eufrates, 2 rios correndo das terras altas, da
Turquia ao norte, até o Golfo. Aqui, mais tarde, eles aprenderiam como cultivar
colheitas, cuidar de animais e se tornariam os primeiros fazendeiros.
Os rios
fornecem água para irrigar as colheitas, havia abundância de peixe e madeira
para construir barcos. E madeiras cresciam em abundância, e milhares de séculos
mais tarde os seus descendentes construiriam as primeiras estruturas de pedra
que se tornariam depois as cidades da Mesopotâmia: Uruk e Suméria, ao sul e as
cidades muradas da Babilônia e de Jericó.
E demos
os primeiros passos para as grandes civilizações que desenvolveriam a escrita,
a guerra e fundariam grandes impérios, todos diretamente ligados ao grupo
genético que tinha saído da migração da África há 80.000 anos. Durante essa
época houve também a explosão de novas tecnologias, as ferramentas de pedra e lanças
que os humanos modernos manufaturaram se tornaram mais leves e eficientes. As
montanhas estavam cheias de caça e boas cassadas dão estabilidade. Da mesma
forma eles começam a estabelecer uma
geografia fixa para locais de enterros e locais sagrados, cujo valor simbólico
para a comunidade ajuda a criar definir o sentido de território duradouro.
No
Líbano o sepulcro de uma criança moderna de doze anos foi encontrado e foi datado
de 44.000 anos. Seu crânio estava quebrado e o corpo dele estava colocado delicadamente
no abrigo de uma rocha. Desses pontos, essas famílias se espalhariam
rapidamente para o Mediterrâneo, para o sul na costa da Síria até o norte da
África, para cima até a Turquia atravessando os Bálcãs e indo para a Europa.